terça-feira, 6 de setembro de 2011


A Lombriga e o esfomeado
Estava o menino descalço andando no meio do nada com dores na barriga, ele não sabia o nome daquilo, mas sentia aquilo, parou, agachou-se e de repente saia dele, de dentro pra fora, aquela coisa esguia e comprida reclamando da vida:
Lombriga – Que coisa mais feia, olha o jeito que você me trata, logo eu que te acompanho por todo lugar que você passa, logo eu que sinto as mesmas dores que você. Preciso de alimento, estou com fome, eu sou uma lombriga e desejo comer tudo que vejo, é assim que o povo fala né? Quero um delicioso pão caseiro, um cheiroso feijão, uma paçoca!
Falava com sonhos nos olhos, lambendo seus lábios enexistentes, e o menino se desculpava ali mesmo agachado:
Esfomeado – Desculpa você sabe o quanto eu gosto de você, meu bichim querido, mas acontece que não tem nada pra comer em casa, já pedi pro papai e chorei pra mamãe, mas nada de nada, lá só tem poeira nas gavetas e ar no armário.
A lombriga não se comovia com a lamentação do garoto e continuava a falar:
Lombriga – Eu quero comer, dá um jeito, você consegue dormir, eu fico lá dentro me contorcendo de fome, isto não é vida não, o mundo é injusto mesmo, umas barrigas tão cheias de comida e sem lombriga nenhuma, quero já reforma agrária das sem barriga cheia.
Falava com entusiasmo de um revolucionário, enquanto o esfomeado a olhava apaixonado, ela falava o que ele sentia, falava da fome da injustiça.
Esfomeado – Olha minha lombriguinha eu te deixo partir, vou sentir sua falta, ficar sozinho no mundo com um vazio maior ainda na barriga, mas entendo que você tem que partir, mas lembre-se que eu te amo e sempre te amarei.
Ela o olha com desprezo e sorri com sarcasmo ao se despedir:
Lombriga – amor não enche barriga, nem dá de comer a lombriga...adeus.

Barbara Teodosio

0 comentários:

Postar um comentário