quarta-feira, 28 de julho de 2010

Autores: Leminski

Eu Queria Tanto

eu queria tanto
ser um poeta maldito
a massa sofrendo
enquanto eu profundo medito

eu queria tanto
ser um poeta social
rosto queimado
pelo hálito das multidões

em vez
olha eu aqui
pondo sal
nesta sopa rala
que mal vai dar para dois

A Lua no Cinema


A lua foi ao cinema,
passava um filme engraçado,
a história de uma estrela
que não tinha namorado.

Não tinha porque era apenas
uma estrela bem pequena,
dessas que, quando apagam,
ninguém vai dizer, que pena!

Era uma estrela sozinha,
ninguém olhava pra ela,
e toda a luz que ela tinha
cabia numa janela.

A lua ficou tão triste
com aquela história de amor,
que até hoje a lua insiste:
— Amanheça, por favor!

Dança da Chuva


Senhorita chuva
Me concede a honra
Desta contra dança
E vamos sair por estes campos
O som desta chuva
Que cai sobre o teclado



Eu
quando olho nos olhos
sei quando uma pessoa
está por dentro
ou está por fora

quem esta por fora
não segura
um olhar que demora

de dentro do meu centro
este poema me olha.

Leminski é o cara, o que ele consegue fazer com as palavras...quem derá uma dia serei marginal, e deixarei de pertencer a estes mediocres!

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Autores:Bruna Lombardi

ANARQUIA

Sei que depois sinto remorsos
de ser tão estupidamente mal criada
de falar tanto e ser tão atirada
uma largata tamborila nervosa
seus pesinhos em cima da mesa
me desculpe
todos os dias prometo
hei de ser mais indefesa
mais contida. Quieta como uma japonesa.
Mas de repente esta coisa desfraldada
desbocada, destemida,que eu sei
que te incomoda
explode inteira cor-de-rosa
perigosamente sulferina.
Qualquer pequena luz
pra mim é festa e me ilumina.

ALTA TENSÂO


eu gosto dos venenos mais lentos
dos cafés mais amargos
das bebidas mais fortes
e tenho
apetites vorazes
uns rapazes
que vejo
passar
eu sonho
os delírios mais soltos
e os gestos mais loucos
que há
e sinto
uns desejos vulgares
navegar por uns mares
de lá
você pode me empurrar pro precipício
não me importo com isso
eu adoro voar.

INTERJEIÇÃO


Qual é a atitude
que você está tomando, moço?
Que grito você está dando
que eu não ouço?
Que é que está adiantando
falar grosso?
Que laçõ, que fita, que farsa
que nó é esse amarrado
no pescoço?
Moço, que palhaçada, que festa
é essa? Que luz
se nos taparam o sol?
Que é que resta, que é que presta
como é que se pode nadar
no meio de tanto anzol?
E quando a corrida começa
todo mundo disparado
pisando em quem tropeça

Moço, que incongruência
um sorriso numa hora dessa

"...Bom comportamento nunca foi meu ponto forte. Minhas contradições se digladiam, Sobrevivo de um instinto que me empurra para lugares onde moças não iriam... Sou tantas, e a cada dia uma. Quero da vida todas e mais algumas, Ir fundo em todas essas personagens."

Lendo estas poesias dela, consegui me ler um pouco. Esta mulher além de bela, intensamente bela.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Em busca da poesia mal interpretada...

Fingi,
sem pretensão de ser espetacular.
Fingi,
sem medo de ser caricato.
Fingi por hábito.

Disfarçamos um rir, risos seduziram-nos!
Em meio aos flashs distraídos ficamos em uma pose escultural.
E nossa labuta sublime virou simples trato operário.
Ficamos a fazer.

Sorrindo só teremos o fingir e nos mascaramos com um pingo vermelho no nariz!
Chorando só fazemos um mentir de dores existenciais de um personagem inexistente!

E juramos vida eterna a esta arte,
e morreremos por amor arte!

E mesmo depois de morrer, continua-se a sentir.
Não deixarás de sentir, a menos... Que te joguem as imbecilidades das massas.
Mesmo assim transformaremos as tolices em algo ilustre, só para rir das banalidades, só pra chorarmos de algo maior que toda esta mediocridade.
Iremos nos convidar a experimentar por sobre tudo isto, sem simular!

Retomamos a verdade não existente de nossa fé cênica e profana.
E nossa responsabilidade de senti-la é tanta (oh verdade) - tanto que às vezes (ou sempre) até dói!
E doer já não é um mal, nesta nova interpretação:
É sentir a vida gritar contra toda a morte,
É sentir a morte lhe dizer torturas vãs.
É pedir permissão à vida pra expressa-la em salas.
É perder-se em salas vazias de dores emprestadas,
E toma-las como se fossem prozac e fluoxetina de máscaras clássicas.


Barbara Teodosio e Jvnivs Cæsar