quinta-feira, 23 de junho de 2011

Na doença e na saúde

Na doença e na saúde

(ela esta em frente a uma penteadeira antiga, esta de costas e o publico vê seu rosto por meio ao reflexo do espelho, ela passa um batom vermelho nos lábios, se perfuma e o perfume impregna a sala.).


(Jura doce como uma virgem recatada) Prometi fidelidade em pensamento. Entreguei-te meus pertences. Confecei-te minhas taras. Fiz sua comida predileta e pus a mesa sobre aquela toalha branca de renda que pertencia a sua adorada mãe. Jurei amor eterno, puro e belo. Amo-te, Sim, Na doença e na saúde. (repete) na doença e na saúde, na doença e na saúde... (grita como uma louca e traída e feroz) Perdão!

(Confessa como uma vilã de um filme de ação barato) Perdoe-me, mas sim sempre torci pela doença, para atacar-te uma moléstia, para necessitar-te de meus cuidados, para me entregar sua vida, entende assim não precisarias sair de casa, não olharias outras moças nas ruas, não lhe dividiria com o trabalho, não poderias querer e desejar algo que não fosse eu, sua vida em minhas mãos, sua vida seria bem tratada em minhas mãos. Com a doença ele morria para o mundo.

(Admira a beleza do seu amado até chegar ao gozo) Tranquei-te em casa, deixe-te sem comida, ficaste fraco, era tão belo fraco, sua boca seca e branca, adoeceste aos poucos, seus olhos perdendo o brilho, seus lamentos e juras desesperadas por mim, era tão sincero nas súplicas, gozava em meio aos seus gemidos de dor.

(Fofoca como uma velha varrendo a calçada) As visitas eram o único tormento, estavas doente e a presença das outras pessoas poderia te contaminar, por isso não as deixava entrar em nosso quarto, arrumava os lençois brancos de algodão.

(com cuidados de uma mãe amorosa) Suavas frio, e eu quente lhe acomodava entre os travesseiros.Já não reclamavas, já não gritavas, e no último suspiro eu estive presente, fui a última imagem a veres, nosso segundo mais sincero de amor.
 
(Arrependida como uma menina mimada que quebra a maquiagem de sua mãe) Nunca desejei sua morte, mas se este foi preço a pagar por nosso amor sublime. Esta pago.

(Com um tom de tristeza entediada) Mas a vida não tem mais graça, o cheiro começa a empregnar o quarto, e a loucura me bate a porta, bela e livre, bate a porta. E me diz ao pé do ouvido vem, e sinto te trair ao me entregar a ela, por isso escolho a morte.

(Eufórica e compulsiva como um gordo que devora uma torata de chocolate) Morro agora mais ainda um pouco a cada dia, morte de dor da sua partida... Mal digo a doença que antes bem dizia, me culpo pelos dias que por ela torcia, ela que te manteve comigo por muito tempo e o tempo todo, hoje te levou de mim pra um tempo que eu desconhecia. Tem dor, dor sem amor de ter, dor de ver a cama vazia, vazia de você e isso me esvazia. E tomada por essa infecção de falta sua, sem mais ilusão me entrego ao que te foi prometido, amar-te-ei na saúde e na doença na alegria e na tristeza ate que a morte nos eternize dois em um só. Morro pro mundo aonde você não mais esta vou à procura de ti por um caminho desconhecido.
(E ao som de um tango segue seu caminho até que a morte os uma)

Barbara Teodósio e Renata Carvalho inspiradas no universo Rodriguiano.

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