quinta-feira, 6 de maio de 2010

Incomodados

Ando fazendo de um tudo para não pensar.
Porém só tenho meus pensamentos neste momento.
E eles me atormentam...

Nada me angústia tanto como ser esta menina, que faz parte dos medíocres.
Que sonha com o príncipe encantado,
que nasceu, cresceu e brincou com barbies,
que tirou boas notas, que namorou anos, que ficou por ficar.
Que faz faculdade, trabalha, pretende casar, ter filhos e fazer uma especialização.
A menina que já paga seguro, e engordou uns quilos esta semana.
Ah! e espera desesperadamente pelos feriados e sextas à noite.
As sextas à noite são libertadoras!
Mas é só chegar às 23:00horas e a liberdade grita:
Vá dormir!

Nada me incomoda tanto como minha vida.
O que realmente me incomoda são os meus problemas!
Não o fato de uma coitada ter matado a filhas às pancadas ontem.
Nem o fato de terem jogado aquela menina pela janela naquele ano passado.
E não me incomoda o fato de aviões caírem e carros capotarem e pneus furarem.
Os fatos deste jornal de hoje não me incomodam, pois nem os li.
A corrupção não me incomoda já me adaptei a ela, e a sua banalidade e falta de originalidade.

Nada me agonia mais do que este giz que risca a lousa.
Que este garfo que desliza ao prato.
Que esta cadeira que arrasta no chão.

Na verdade hoje me tortura a sua insignificante ausência.
Hoje me estressa este cansaço em meu corpo, os olhos que desejam fechar-se.
Agora me aborrece o meu individualismo e falta de sensibilidade com o mundo.
Este mundo cinza, cruel e injusto.
Que está condenado à morte pelos homens que o habitam.
Estes homens que me dão um nojo e desejo intenso.
Estes homens que são inteligentes, belos e humanos.
a humanidade não tem vez neste poema, pois esta poesia é sobre mim.
e toda a minha insignificância no mundo inteiro.

Ando fazendo de um tudo para não sentir.
Porém só tenho meus sentimentos neste momento.
E eles me atormentam...

Meus sentimentos...
Pelos que sofrem neste mundo,
Pelos que estão sós nesta multidão.
Pelas crianças que são espancadas, exploradas e arremessadas por janelas.
Pelos que viraram trapos humanos, pelos sonhos desfeitos acidentalmente.
Pelas vítimas da corrupção, pelas vítimas da falta de escolha, pelas vítimas desta vida cotidiana.
Pelo mundo que destruímos ao tomarmos banho, e andarmos de carro.
Pelos fatos deste jornal que não li.
Pela nossa insignificância.

Esta poesia como disse faz parte de mim e de tudo que me incomoda, que é semelhante ao que te incomoda, ou não.E incomodados dormiremos e acordaremos e continuaremos mediocremente nossa vida cotidiana.

PS: Sábado à noite faremos o que?

Barbara Teodosio

2 comentários:

Patrícia Bracale disse...

Como é bom pensar,
Mais ainda é sentir.
E, eu em saber que tu continua
sempre sendo aquela MENINA.

Barbara Teodosio disse...

uma mulher que pensa
uma menina que sente

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